terça-feira, 5 de janeiro de 2016
A casa sem fim 2 - Maggie (Creepypasta)
Já se fazia três semanas que eu não ouvia noticias de David. Nos seis meses que namoramos, ficamos no máximo três dias sem nos falar. Não havia nada fora do comum na última vez que o vi, ele tinha mencionado que estava indo verificar uma coisa que um amigo lhe contou. Naquela noite eu ainda recebi um SMS um pouco estranho de David, mas não era de seu número. Era uma mensagem de apenas seis palavras.
“Casa sem fim, não venha! David.”
Tinha alguma coisa errada. Depois que li esse texto me senti enjoada, como se eu tivesse visto algo que não devia. Eu decidi logar na conta de Messenger dele para ler suas últimas conversas. As mais recentes era com Peter, um dos seus melhores amigos, um viciado e burro, mas pelo menos ele podia ter algumas informações sobre onde David poderia estar. Assim que entrei, imediatamente recebi mensagens.
- David? Puta merda cara, você me deixou preocupado. Pensei que tivesse ido para aquela casa.
- O que você quer dizer?
- A casa sem fim, cara, eu podia jurar que você tinha ido para lá.
Casa sem fim, esse cara sabia o que estava acontecendo.
- Pois é... Eu não consegui encontrá-la. Talvez eu tente ir lá amanhã. Me passa o endereço de novo?
- De jeito nenhum! Você já me preocupou demais, eu estive naquele lugar, acredite em mim, você não vai querer ir naquele lugar.
- Peter, aqui é a Maggie.
- Espere... O que? Onde está o David?
- Eu não sei, pensei que você poderia saber, mas aparentemente não.
- Puta merda! Merda, merda, merda!
- O que foi? Sério Peter, você precisa me dizer o que está acontecendo.
- Eu acho que ele entrou naquela casa. Não é longe, talvez quatro milhas abaixo, em Terrence. Seguindo a estrada marcada e virar a direita. Puta merda! Ele se foi!
- Não, eu não acho que ele se foi.
- O que você está pensando em fazer?
- Eu vou trazê-lo de volta.
Eu parti para a procura dele na mesma noite em torno das oito. Não havia um único carro em toda viagem, e quando virei para uma rua sem nome, vi uma placa com uma seta.
“Casa sem fim// Aberto 24 horas”
Minha respiração estava ofegante desde que saí de casa, e ver a tal casa sem fim não ajudou em nada. Não havia outros carros ao redor, o que me fez pensar que talvez não estivesse aberto. A luz da varanda da frente iluminou a área circundante, e pelas janelas se percebia que as luzes estavam acessas do lado de dentro. Eu estacionei meu carro e caminhei até a porta da frente.
O lobby era normal, e como eu previ, não havia ninguém lá. Todas as luzes estavam acesas, mas ninguém estava lá. Apenas um banner dizendo:
“Quarto 1 por aqui. Mais oito a seguir. Alcance o final e você vence!”
Isso por si só não deu medo, mas o que me causou um frio no estômago, foi um rabisco logo abaixo em vermelho escrito à mão: “Você não vai conseguir salvá-lo”. Devo ter ficado no lobby por uma hora. Eu estava congelada. Eu não sabia como continuar. Será que deveria ir até aquela porta? Será que eu deveria chamar a polícia? Depois de ler o aviso eu pensei um pouco mais, eu sou uma garota de estatura baixa e muito fraca, eu não seria a pessoa ideal para lutar contra um possível psicopata que estivesse mantendo o David como refém. Eu decidi chamar que chamar a polícia era a melhor opção, então coloquei a mão no meu bolso e abri meu celular para ligar. Sem sinal. A casa devia estar bloqueando o sinal, ela fica basicamente no meio do nada. Caminhei em direção à entrada, imaginando que eu teria sinal do lado de fora. Cheguei à maçaneta, virei e nada. Eu sacudi com mais força. Ela estava trancada pelo lado de fora. Bati minhas mãos contra a porta e gritei, mas ninguém podia me ouvir. Eu sabia que era inútil, não havia ninguém aqui exceto eu. Então eu senti uma vibração no meu bolso. Abaixei-me e olhei para meu celular. Uma mensagem não lida. A princípio eu fiquei feliz por ter sinal, talvez fosse uma mensagem de David que ele estivesse bem. Era uma mensagem de um número desconhecido, eu pressionei para ler a mensagem e quase deixei o celular cair.
“Você não pode salvar nem mesmo a si mesma.”
Meu corpo inteiro estava tremendo. Eu queria sair dessa casa. Eu estava presa lá. Meu celular estava sem serviço em uma sala sem saída. Meus olhos percorreram a casa e pousou na porta do outro lado da sala com um número “1” na frente, parecia como uma porta de hotel.
Eu caminhei até ela. Eu estava a poucos centímetros e coloquei meus ouvidos contra a madeira para tentar ouvir. Tudo que eu ouvia era uma música distante de Halloween. Apenas um instrumental assustador que você ouviria em qualquer casa mal assombrada falsa. De repente eu fiquei um pouco mais calma. David sempre foi conhecido por suas pegadinhas. Ele me contava como sempre ia fundo quando queria pregar alguma peça em alguém nos tempos da escola. De alguma forma, um sorriso se formou no meu rosto e eu abri a porta sem medo. Entrando no primeiro quarto, meus medos aliviaram ainda mais. O quarto era uma tentativa completamente fracassada de uma casa mal assombrada. Em cada canto havia um espantalho, mas não chegavam nem perto de ser assustador. Era do tipo das festas de escola, com grandes rostos sorridentes. Fantasmas de papel pendurados no teto e um ventilador no canto. Ao lado de um dos espantalhos, novamente tinha a única porta na sala e estampado na parte da frente, semelhante à da primeira porta, era um grande número “2”. Eu ri e caminhei para ela.
Quando eu abri a porta do quarto “2”, eu não podia enxergar dois palmos à minha frente. Ele foi completamente preenchido com uma névoa cinzenta que cheirava a borracha. Imaginei que tinha alguma máquina de fumaça no quarto que devia estar ligada já há muito tempo e parecia não haver janelas para toda essa fumaça sair. Caminhei lentamente para frente e soltei um gritinho. Eu tinha colidido em linha reta com um grande robô do Jason Vorhees. Seus olhos brilhavam na cor vermelha e segurava um facão de cima para baixo como se estivesse fazendo um movimento para atacar alguém. Meu coração estava disparado e se alguém estivesse comigo eu estaria completamente envergonhada. Eu cobri minha boca e fiz meu caminho passando pelo Robô do Jason, o nevoeiro parecia estar aumentando, então eu finalmente avistei na minha frente a porta para o quarto número “3”. Coloquei minha mão na maçaneta e rapidamente soltei, ela estava extremamente quente, eu coloquei minha mão na porta de madeira e ela também estava quente, aproximei meu ouvido para tentar ouvir do outro lado da porta um incêndio talvez, mas não ouvi nada. Pensei que era apenas um aquecimento elétrico proposital. Envolvi a maçaneta com um canto do meu vestido e virei o mais rápido que pude e me atirei no quarto “3”. Não havia fogo. Apenas trevas e muito frio.
Esse terceiro quarto não era como os outros em nenhum aspecto.
Naquele momento, eu sabia que algo não estava certo. Eu tentei fazer alguma coisa, mas eu não conseguia nem ver minhas mãos segurando a maçaneta da porta que agora não estava lá. Eu estava presa. Como se eu tivesse dado meia volta na escuridão, mesmo que eu não tivesse movido um músculo desde que entrei. Naquele momento, uma luz no teto acendeu. Um único holofote apontando diretamente para baixo, iluminando uma pequena mesa, e sobre esta mesa havia uma lanterna. Mesmo que eu não conseguisse enxergar nem mesmo o chão onde eu estava pisando, eu segui em direção à mesa iluminada. Quando peguei a lanterna notei uma pequena etiqueta fixada nela dizendo.
“Do gerente - Para Maggie”.
No momento em que eu terminei de ler, a luz acima de mim quebrou e outra vez, fiquei no escuro. Eu me atrapalhei com a lanterna por um segundo antes de conseguir ligá-la.
Pelo que parecia vir de todas as direções, um zumbido me cercou. Meu coração estava acelerado e eu comecei a girar no lugar, lançando a luz da lanterna ao meu redor. Não havia nada no quarto, mas depois de um tempo notei algo aterrorizante. Poderia ter sido apenas minha imaginação, mas eu podia ver uma figura sempre fugindo seja lá pra onde eu apontava a luz. Comecei a entrar em pânico. Fui me afastando da mesa sem saber para qual direção eu estava indo. O zumbido foi ficando mais alto e depois eu comecei a sentir a presença do que quer que fosse que estava desviando da luz. Minhas mãos tremiam descontroladamente enquanto eu freneticamente brilhava a lanterna para qualquer direção. Aquilo estava sempre lá, escapando de volta para a escuridão, mas cada vez mais perto. Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu pensei que iria largar a lanterna por eu tremia muito, até que eu vi. A luz apontada diretamente para um número “4”. Ele foi escrito em um pedaço de papel e colado com fita adesiva na porta. Eu corri. Corri o mais rápido que pude com a lanterna apontada diretamente para minha frente. Eu podia sentí-lo atrás de mim. O zumbido foi ficando mais alto e já podia sentir uma respiração no meu pescoço. Eu estava correndo e faltavam mais alguns metros para chegar. Em apenas um movimento eu peguei a maçaneta, virei e bati a porta atrás de mim.
Eu estava no quarto número “4”.
Eu estava lá fora. Eu não estava mais na casa. O que me esperava depois de abrir a porta da sala “4” parecia ser uma caverna. Olhei para o chão e notei algo estranho e perturbador. O chão não era feito de grama, ou pedra, ou sujeira, eram pisos de madeira. Era o mesmo piso dos quartos anteriores. Este era o quarto número “4”. De alguma forma eu ainda estava dentro da casa. Havia tochas montadas nas paredes rochosas ao meu lado, e para além da caverna estava escuro como o breu. As tochas pareciam que podia ser retiradas da parede por baixo, então caminhei até a mais próxima e retirei para iluminar meu caminho. Meu corpo está suando, eu fiz meu caminho lentamente para dentro da caverna. O zumbido se foi, espero que para sempre. Depois disso não ouvi barulho algum na caverna, apenas uma pequena brisa. A caverna parecia se estender eternamente, eu já estava andando nela há horas, até que vi uma luz azul fraca. Eu andei até ela, com cautela, mas um pouco acelerada. A luz era uma abertura à extremidade do túnel. Eu cheguei ao fim dessa caverna, mas não havia mais chão adiante, o fim era um penhasco e não havia outro caminho para seguir. Eu olhei de volta para trás para a caverna de onde eu vim, eu sabia que não havia volta. Eu fui até a borda do penhasco e olhei para queda abaixo. Eu senti um calafrio percorrer meu corpo inteiro. O que eu vi foi um oceano, água ao redor com mais nada a minha vista. Era uma queda de centenas de metros, com uma formação de rochas. Meu corpo congelou quando percebi que as rochas lá embaixo formavam um “5”.
Assustada eu me afastei da borda. Eu odiava alturas. Eu me afastei até ser barrada por um muro que não estava lá até pouco tempo atrás; Eu me virei ainda mais assustada com uma visão aterradora. Não havia mais caverna, eu estava cara a cara com uma parede sólida. Eu me mantinha dizendo que ainda estava na Casa Sem Fim.
Eu tinha que estar!
É evidente que não havia montanhas na cidade! Mas parecia tão real. Olhei novamente para o precipício. Não podia ser real. Essa casa estava mais confusa agora. Mas o que ela esperava que eu fizesse agora era demais. Eu sabia o que aquelas rochas lá em baixo significava. Essa era a entrada para o quarto número “5”, mas não havia escadas nem nenhum caminho para chegar até lá embaixo. A casa queria que eu saltasse. Eu caí no chão me encolhendo. Eu não podia fazer isso, não conseguiria saltar de um penhasco de centenas de metros em uma formação rochosa irregular. Minha mente estava dividia em duas. Eu sabia que ainda estava dentro da casa, mas tudo que eu via ao meu redor me dizia o oposto. Eu fiquei lá no chão de madeira por um tempo, naquele momento eu já tinha perdido toda a noção do tempo.
Depois do que pareceram semanas, eu finalmente me levantei e fiz meu caminho até a borda do penhasco e olhei para baixo. As rochas formando o “5” pareciam zombar de mim. A casa sabia que eu não conseguiria evitar provocações. Então aquele zumbido retornou, um zumbido baixo e distante, parecia vir de trás de mim, ressoando dentro da montanha. Eu não sei o que deu em mim, mas depois de ouvir esse som, algo dentro de mim se iluminou. Eu fechei meus olhos e saltei.
O vento da queda contra meu rosto prendia meu fôlego e um medo profundo tomou conta de mim. Eu ia morrer. Eu ia colidir com as pedras e morrer. Elas iam me partir em mil pedaços e eu ia morrer. Eu não me atrevi a abrir meus olhos, apenas continuava caindo desesperada. O vento forte contra meu rosto continuava e o zumbido era agora ensurdecedor. Então tudo acabou.
Eu não estava mais em queda, eu nunca atingi as pedras. Eu abri meus olhos e olhei em volta. Eu estava de pé sobre os pisos de madeira familiar da casa. O zumbido se foi e o silêncio tomou seu lugar. Eu consegui! Eu estava no quarto “5”. Eu não sei como isso aconteceu, mas eu estava lá. O sentimento de medo se foi, e eu estava incrivelmente feliz por estar viva. Depois de alguns momentos me recompondo e decidi olhar em volta para o resto da sala. Minha felicidade durou pouco.
O quarto estava vazio, as paredes combinavam com o chão, e o teto combinava com as paredes, e nas paredes não havia portas ou janelas. Eu estava em uma caixa selada. Eu não sabia como cheguei aqui, mas não havia forma de sair! Naquele momento eu me perguntei se David tinha estado nesta sala, eu me perguntei se ele tinha saltado do penhasco e acabou nessa sala. E se ele fez, significa que ele conseguiu sair. Ele não estava aqui, eu estava sozinha. Ele conseguiu sair e eu faria o mesmo. O pensamento de que David conseguiu escapar era minha única fonte de confiança que encontrei. Eu estava indo para encontrar um jeito de sair dessa sala, encontrar David e tira-lo para fora daqui. Eu andei por todo quarto, perímetro por perímetro passando minhas mãos pelas paredes para sentir qualquer coisa diferente que pudesse revelar a saída. Nada. As paredes eram impecáveis, apenas alguns arranhões, mas nada de uma passagem secreta. Comecei a bater em alguns lugares aleatórios nas paredes, Mas tudo era completamente sólido. A confiança começou a diminuir, eu estava começando a ficar sem ideias. E foi ai que ela falou comigo.
- Maggie, você não deveria ter vindo aqui, Maggie.
Minha pele quase saltou de mim se fosse possível. Eu ainda estava de frente para a parede e a voz tinha vindo do meio da sala. Era uma voz de uma garotinha, pelo menos era o que parecia. Eu me virei lentamente. Eu estava certa, era uma menina loira, não mais que sete anos de idade, com os olhos azuis e um longo vestido branco. Ela sorriu para mim e falou novamente.
- Mas agora que você está aqui, vamos jogar um jogo.
Havia algo horrível sobre aquela menina. Ela não era assustadora como aquelas garotas de filmes de terror japoneses, ela parecia completamente normal. Se eu a visse na rua passaria despercebida. Mas olhando em seus olhos, senti um terror completo. Saltar do penhasco foi assustador, mas eu pularia de vinte vezes mais alto do que ficar sendo encarada por um minuto com aquele olhar em seus olhos sem alma. Depois de um momento de olhar, eu finalmente falei.
- Que jogo? Quem é você? – Eu murmurei.
- Se você perder, você morre.
- E se eu ganhar?
- Ele morre.
Meu coração se afundou, eu não podia acreditar no que eu estava ouvindo, mas eu sabia que ela estava dizendo a verdade.
- O que vai ser? – Ela sorriu
- Nada – Eu não sei onde encontrei coragem para responder esta criança demônio, mas eu não vim de tão longe simplesmente para deixar David morrer, e se eu morresse tudo isso foi em vão.
Eu escolhi não jogar. Mas então eu vi. A razão pela qual a menina me aterrorizava. Ela era mais do que uma criança. Olhando para ela, eu também vi o que parecia ser um homem grande coberto de fumaça, com a cabeça de um carneiro. Era uma visão horrível. Eu não podia ver um sem deixar de ver o outro. A menina ficou a frente de mim, mas eu sabia qual era sua verdadeira forma. Foi a pior visão que eu já tinha visto.
- Péssima escolha – E com isso ela se foi.
Eu estava sozinha novamente em uma sala vazia e silenciosa. Só que dessa vez algo foi adicionado. Uma pequena mesa apareceu do nada, como se estivesse lá o tempo todo. Havia algo sobre ela, mas eu não podia ver de onde eu estava. Fui até a mesa e olhei par ao pequeno objeto. Era uma pequena navalha, como uma que você encontraria em um estilete. Estendi a mão e peguei então um grito saiu de minha boca. Quando estiquei minha mão, vi algo que nunca existiu antes. Havia uma marca no meu pulso, parecia uma tatuagem verdadeira com um único número “6”. Eu olhei de volta para a navalha e notei uma etiqueta fixada nela dizendo:
Do Gerente - Para Maggie
*Pensei que precisaria disso*
Depois de ler a nota, eu comecei a chorar incontrolavelmente. Lágrimas pesadas corriam pelo meu rosto de uma forma que nunca aconteceu em toda minha vida. Eu caí no chão, permaneci lá por horas chorando. Não sabia mais se se tratava sobre David ou sobre me manter viva, não havia mais portas nessa sala, eu ainda estava presa. Mas ainda não era por isso que eu estava triste. Eu estava em depressão mais profunda possível. Completa depressão sem emoção. Eu me sentia vazia, e arranhei meu caminho até a mesa. Meus olhos caíram sobre a navalha, eu a peguei. Eu ia me matar! Eu não podia lidar mais com isso! David provavelmente já estava morto! Eu estava presa aqui! Este era o fim! Eu pressionei a lâmina contra meu pulso, logo acima do “6” que tinha aparecido na minha pele. Meus soluços voltaram, e eu fiquei sobre aquela dor agoniante e chorando coma a navalha pressionando contra meu pulso. David estava morto, e eu estava prestes a morrer. Nada mais importava e com um corte profundo eu passei a lâmina no braço.
Imediatamente após o corte no meu pulso, eu já não estava no quarto “5” e eu não morri. A depressão foi embora, mas eu não estava feliz. Lágrimas ainda escorriam pelo meu rosto. O quarto que eu estava era semelhante ao anterior e novamente não havia portas. Não havia qualquer lâmpada, mas de alguma forma que era capaz de ver tudo com clareza. O quarto estava completamente vazio, mas antes que eu tivesse tempo de pensar no que fazer em seguida, ele ficou escuro e o zumbido de antes voltou. Tapei meus ouvidos em protesto, era mais alto do que jamais foi, mas acabou em um momento e as luzes voltaram, só que desta vez algo foi adicionado ao quarto. E então eu gritei. Lá no meio da sala, amarrado por correntes, completamente nu estava David. Parecia que ele foi torturado, cheio de marcas de facadas no peito e braços.
-DAVID! – Eu corri até ele o mais rápido que pude.
Ele estava consciente, eu vi seu peito se encher e esvaziar, ele estava respirando, mas não estava falando. E foi ai que eu vi o que estava gravado em seu peito.
Eu caí de joelhos quando vi.
Um “7” olhou para mim como se tivesse olhos.
Ouvi David tentar falar, e fui até mais perto do que conseguia.
- David! David, você pode me ouvir?!
- Maggie... O que você tá... O que você tá fazendo aqui? – Sua voz era suave, mas ele estava falando e eu era grata por isso.
- David! Estou tentando salvá-lo. Como posso te soltar? – Olhei ao redor da sala para tentar encontrar qualquer tipo de chave, mas tudo que encontrei foi uma faca pelos cantos. O metal era muito grosso, era uma faca mortal. Voltei para David, parecia que ele estava à beira da morte, então senti meu bolso vibrar. Eu me assustei e peguei o telefone no meu bolso. Como eu suspeitava uma mensagem não lida. Eu abri a mensagem que dizia:
“Este não sou eu.”.
Eu não sabia o que pensar. David estava bem ali na minha frente, mas essa mensagem veio do mesmo número que me contatou. É da primeira mensagem que recebi onde David mencionou sobre a Casa Sem Fim.
- Maggie... – Eu ouvi a voz dele claramente com meus ouvidos. Parecia que a voz vinha de todos os lados. – Maggie... Você tem que ir em frente.
- O que você está falando? Como? – Eu estava cara a cara com David, ou quem quer que fosse acorrentado ali.
- Essa faca... – Ele fez um leve movimento com a cabeça em direção ao canto. – Vá buscá-la. – Eu corri e imediatamente voltei com a faca apertada em minhas mãos. Eu não tinha ideia do que estava acontecendo, mas eu precisava salvá-lo e faria alguma coisa...
- Agora me esfaqueie no peito.
- O que? – Fiquei chocada. David pendurado ali, olhando diretamente nos meus olhos.
- Você tem que enfiar essa faca no meio desse “7” em meu peito. É a única maneira de nos salvar.
- Não... - Eu tropecei para trás – Não, o que você está dizendo não faz nenhum sentindo!
- Maggie! – Ele estava gritando agora, seus olhos pareciam frenéticos, o lado de sua boca se curvou em um sorriso torcido. – Maggie, me apunhalar agora é o único caminho!
Olhei para a faca na minha mão, minha cabeça parecia como se tivesse sito atingida por um bastão. Eu estava perdida completamente. Eu apertei meus olhos fechados e senti a faca na minha mão.
- MAGGIE! – E com o grito e um impulso esfaqueei o peito de David.
Eu não sei o que deu em mim, eu só aceitei que era a única maneira. Abri meus olhos e vi o rosto dele. Ele estava apavorado. Lágrimas deslizavam por suas bochechas e David me olhou nos olhos.
- Por que... Você... Fez isso...?
Ele não podia me enganar. Eu sei que não era David. Não podia ser! Seus olhos rolaram para trás quando morreu, mas foi ai que ele mudou. O “7” em seu peito se foi, o sangue escorria no chão formando uma piscina abaixo de mim. O líquido vermelho se estendendo em todas as direções, o círculo quase encheu a sala e eu comecei a afundar. Tentei me mover, mas não conseguia. Era como areia movediça. O sangue estava até meus joelhos agora, quanto mais eu tentava lutar, mais eu afundava. Estava até meu peito agora. O corpo sem vida de David estava pendurado acima de mim, sorrindo. O sangue chegou ao meu pescoço, eu estava apavorada e em pouco tempo submersa eu caí na escuridão. Quando acordei, eu estava fora da casa. Eu podia sentir a terra fria abaixo de mim. Eu rolei para trás e olhei o céu noturno. A Casa Sem Fim erguia acima de mim, com meu carro estacionado no mesmo lugar que eu deixei. Eu não tinha certeza se deveria rir ou chorar. Eu estava fora. Levantei-me espanando minhas calças. Meu corpo ainda estava tremendo enquanto em caminhava para meu carro, mas um sentimento de mal-estar tomou conta de mim. Não havia maneira de eu ter escapado. A casa não iria me deixar ir. Algo não estava certo. Eu sabia. Eu sabia que não matei David no quarto “6”. Eu sabia que não fiz isso. Mas eu ainda não sabia onde encontrar ele. Abaixei-me para o meu bolso e peguei meu celular. Não havia mensagens não lidas. Mas tinha sinal. Eu abri e comecei a escrever uma mensagem para David. “Onde você está?”, dentro de um segundo após enviá-la eu recebi uma resposta. Eu pressionei para ler animadamente. “Quarto ‘10’, você está no ‘7’” – Então o zumbido ensurdecedor retornou. Eu saí correndo. Eu não sabia para onde estava indo, mas eu sabia que não estava lá fora. Eu ainda estava na casa. O zumbido sacudiu tudo ao meu redor. Ele balançou as árvores e o próprio ar. Eu precisava encontrar um “8”, eu precisava encontrar a próxima sala. Era minha única chance! Eu precisava encontrar o quarto número “8”. Os primeiros quartos eram óbvios, mas quanto mais eu progredia, menos claro eram onde ficava a porta para o próximo. Agora eu não fazia ideia do que eu estava procurando, eu só tinha meu celular. Eu precisava encontrar um “8”, precisava encontrar um “8”, precisava encontrar um... *Uma mensagem não lida*: “Seu endereço”. Que diabos ele quis dizer? O meu endereço? Enfiei meu telefone de volta no meu bolso, o zumbido foi crescendo cada vez mais alto. E foi ai que me toquei. O meu endereço, O meu endereço, O meu endereço...
Condomínio Florestal, 4896...
Não podia ser. Não podia Ser. Oitavo andar. Entrei no meu carro e bati a porta. O zumbido sacudiu o metal do carro e parecia me seguir para dentro. Eu fiz o caminho para meu apartamento. Nada disso fazia sentido. Como o quarto número “8” podia ser meu apartamento? Devo ainda confiar nessa mensagem? Ela foi enviada por David, eu sei que foi. Não havia razão para não confiar nele. Demorou pouco tempo para chegar. Eu me atrapalhei com as chaves e fiz meu caminho para as escadas já que o elevador estava em manutenção. Este condomínio era enorme, subi o mais rápido que pude, passei o quarto andar, o quinto, minha cabeça estava girando, essa noite foi pesada, passei o sexto, quanto mais eu me aproximava mais longe o zumbido parecia ficar, quando cheguei ao sétimo andar eu mal podia ouví-lo mais. E quando parei em frente meu andar estava completamente silencioso. Eu estava de pé ao meu apartamento. O pequeno “8” estava ao nível dos meus olhos. Estendi a mão na maçaneta e lentamente deslizei minha chave, a porta se abriu e eu fui sugada como um vácuo, a porta bateu atrás de mim.
Quarto número “8”, me levantei do chão e olhei em volta. Ele era idêntico ao meu apartamento. Se eu não soubesse das armadilhas da Casa Sem Fim, eu teria jurado que estava em casa e que tudo foi um sonho ruim. Meus pensamentos eram sobre David, e me perguntei o que o quarto “8” foi para ele, o que a casa lhe mostrou? Eu andava e estudava a área. Literalmente, tudo estava como eu deixei, até metade da comida chinesa ao lado da pia. Olhei para minha mesa de computador, O MSN ainda estava aberto. Fui até lá e me sentei em frente dele, percorrendo minha conversa com Peter. Olhei lá, palavra por palavra. A casa sabia de tudo isso. Para ser honesta, eu fiz o possível para não pensar sobre isso, a resposta, sem dúvida era melhor eu não saber. Eu tentei clicar fora da janela do MSN, mas não deixava. O computador travou. Tentei minimizar, nada. Tentei Ctrl+Alt+Del, nada. Tirei o computador da tomada, nada. Eu olhei para a lista de pessoas na conversa e havia dois nomes; Maggie e Gerente. O ícone de Web Cam estava verde, mas tudo que mostrava era uma parede cinza. Em seguida uma mensagem do gerente apareceu como notificação.
- Espero que tudo esteja como você deixou :)
- Quem é você? – Respondi.
- Aproveite o show :) – E com isso a câmera ligou. A câmera focou em um jovem amarrado a uma mesa de cirurgia. Ele estava completamente nu e chorando baixinho para si mesmo. A imagem não era clara, mas eu pensei reconhecer o homem deitado ali. Ele tinha cabelo curto, marrom, era alto e uma pele pálida.
- Isto é o que acontece quando as pessoas tentam me enganar :)
Foi quando eu me dei conta de quem era. Amarrado à mesa cirúrgica era Peter Terry. E ele não estava sozinho. Eu não quero descrever o que vi naquele momento. Os gritos, os sons que Peter faziam eram diferentes que tudo que já ouvi de um ser humano. Eu não conseguia desviar o olhar. Eu queria, mas acho que era o poder daquele quarto, eu não conseguia desviar o olhar. Peter soltou um último grito de gelar a alma, mas eu não ouvi através das caixas de som do computador, o som vinha do meu quarto. Meu coração afundou quando me virei em direção ao corredor. Eu me levantei da cadeira e ainda podia ouvir os gritos que emanavam enquanto caminhava em direção a sua fonte. Cheguei à porta do meu quarto e os gritos agora foram substituídos pelo zumbido. Abri a porta devagar, eu vi dentro do meu quarto um notebook, a mesa cirúrgica com o que restava de Peter Terry espalhado pelos cantos. Mas ninguém mais estava lá. Mas um arrepio me percorreu de volta. Uma porta que não havia antes aqui com uma placa escrito “Administração”. Andei mais perto da mesa, o cheiro era horrível e dei o melhor de mim para não vomitar. Eu sabia que estava chegando ao fim. Olhei ao redor da sala. Em algum lugar aqui era a entrada para o próximo quarto. Tinha que ser. E foi mais simples do que eu esperava. Na mesma porta com a placa de Administração, um “9” se formou com as entranhas do Peter Terry. Eu me senti mal por Peter, mas eu tinha ido ao inferno naquela noite. Andei direto, passei pela mesa, peguei um bisturi longo e não dei nem uma segunda olhada para o corpo. A última porta estava lá e eu caminhei até ela. Esta noite estava prestes a terminar e eu sairia daqui junto com David. A porta se abriu com facilidade e eu atravessei.
Eu vi o que estava esperando por mim.
Era uma sala vazia, se assemelhava a uma sala de espera de um consultório médico. Havia algumas cadeiras que revestem os cantos das paredes e algumas revistas velhas no canto. Do outro lado da sala, no lado oposto de onde entrei, havia uma única porta. Meu coração afundou quando li o rótulo impresso na madeira. Não era um número. Era uma única palavra.
“GERENTE”
Eu apertei o bisturi na mão.
- Tudo bem, eu estou me ferrando para que isso termine logo.
Eles estariam do outro lado da porta. Eu podia sentir isso. E David estaria lá! O zumbido era mais alto do que nunca. Eu podia sentí-lo dentro de mim e ficava ainda mais alto enquanto eu caminhava e quando coloquei a mão na maçaneta tudo se silenciou novamente. Virei a maçaneta e abri a porta. A sala de espera não era para nenhum consultório. Era o lobby. A entrada da casa, onde todo esse inferno começou. Só que desta vez, havia alguém atrás do balcão. Meu coração pulou para fora do meu peito quando vi quem era.
Era Petter Terry.
- Olá Maggie.
- Peter? – Não, não era possível – Como? Por quê?
- O que você estava esperando? Um fantasma? Satanás? Alguma garotinha assustadora? – Ele estava sorrindo.
- Que merda está acontecendo aqui?
- Maggie. Vamos; Basta você pensar por dois segundos. Quem foi que disse para o David sobre este lugar?
- Você... Não...
- Quem lhe contou sobre o paradeiro de David aqui?
- Maldição Peter! Ele era seu amigo!
- Eu sinto muito Maggie, mas é assim que funcionam os negócios aqui.
-Onde ele está? Onde ele está?
- Ele está aqui com a gente na casa Maggie. E ele não vai a lugar nenhum. E nem você.
Eu não sei o que deu em mim, mas eu perdi o controle, eu pulei no balcão e empurrei Peter no chão. Peguei a cabeça dele e bati com força no chão e depois atravessei seu pescoço com o bisturi. Eu queria matá-lo. Eu tinha que matá-lo. Ele matou David. Eu não deixaria ele me matar.
- Maggie, você não pode. Sempre haverá alguém para administrar a Casa.
- Não! – Enfiei a faca na garganta e bati novamente a cabeça dele no chão. – Não haverá mais!
Ele morreu então a sala ficou escura, mas eu ainda podia sentir o bisturi em minhas mãos e a cabeça dele no chão. Não sei quanto tempo eu e o corpo dele ficamos na escuridão, mas pareceu muito tempo. Me levantei, segurando na mesa para me equilibrar. Em seguida as luzes se acenderam. Eu podia ver as janelas em todas as salas, ainda era noite. Olhei por uma janela e vi David, ele estava andando do lado de fora, aparentemente ileso. Corri para a porta e tentei abrí-la, eu estava tão feliz. Mas a porta não abria. Eu dei o meu melhor, mas a porta não me deixava sair. Olhei por uma janela e vi David quando ele começou a caminhar pela estrada de terra. Eu descansei minha cabeça pela porta e vi. Meu estômago embrulhou.
Meu coração gelou. Todos os pelos do meu corpo se arrepiaram. Lá, preso ao peito dele estava um crachá de identificação, com uma única palavra.
GERENTE.
- Brian Russell
(Tradução: Sigma)
Marcadores: TerrorEMisterio
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