quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

O primeiro LIVRO a gente nunca esquece...


"Não era bem um livro, desses com capa e páginas que  folheamos e que se abrem em V.
Foi meu presente de Natal. Tinha sete anos e estava  concluindo a primeira série. Meu pai retornava à nossa  casa, desempregado. Era o presente que conseguia  comprar. Nunca mais esqueci.
Uma caixinha amarela com um título: "1001 histórias". Abria como um envelope, e, dentro, muitas folhas brancas, impressas dos dois lados. Eram grossas como  fichas. Sempre iniciavam com a indicação do CAPÍTULO, indo do Capitulo I ao Capítulo X; mas, havia dez  capítulos de cada um: dez capítulos I, dez capítulos II e, assim, sucessivamente. O Capítulo I sempre iniciava  com "Era uma vez..." e o Capítulo X, finalizava sempre com ... "E foram felizes para sempre".  Assim, podia combinar cada folha - ou capítulo - como quisesse, sempre seguindo a sequência dos capítulos de  um a dez, e surgia uma nova história.
Não era uma grande literatura. Eram enredos simples inspirados nas  clássicas histórias de princesas, príncipes e castelos. Mas, me fascinava aquele "protagonismo" na criação da  história. E o principal, lia muito para confirmar se qualquer mistura possibilitava uma sequência que fazia  sentido. Queria chegar a 1001 histórias. Não sei se matematicamente chegaria a esse número. Mas não importava. Guardava aquela caixinha como se contivesse muitos mistérios e como se, somente eu, soubesse revelá-los.
Sei, hoje, que foi um presente de enorme significado -  minha iniciação nos prazeres da leitura."


- Zoara Failla

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